DEMÔNIO VOLTA E TRAZ MAIS SETE



UM ESPÍRITO MALIGNO AO RETORNAR TRAZ MAIS SETE?



APRESENTAÇÃO

Recentemente fui questionado sobre o significado das palavras de Jesus em Mateus 12.43-45. Esse é um trecho popularmente conhecido mas é bem possível que pouco o tenhamos analisado à luz do seu contexto. O que será que Cristo realmente quis dizer? Eu sou Wrias Santos e vamos para O QUE A BÍBLIA DIZ.


TEXTO

"Então, lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo a falar e a ver. E toda a multidão se admirava e dizia: É este, porventura, o Filho de Davi? Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios. Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. Se Satanás expele a Satanás, dividido está contra si mesmo; como, pois, subsistirá o seu reino? E, se eu expulso demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós. Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa. Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha. Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir. Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. O homem bom tira do tesouro bom coisas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado. Então, alguns escribas e fariseus replicaram: Mestre, queremos ver de tua parte algum sinal. Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas. Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra. Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas. A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com esta geração e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão. Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Por isso, diz: Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa." (Mateus 12.22-45)


INTRODUÇÃO

A partir do versículo 22 o foco dos registros recai sobre os fariseus e a dureza de seus corações.

Os fariseus acusam a Jesus de expulsar demônios pelo poder de Belzebu (versículo 24) e Cristo os repreende, porém, Ele não os repreende de modo simplista.


1. CASA DIVIDIDA

Ele inicia afirmando sobre a ruína de um reino, cidade ou casa dividida, onde não haveria sustentação ou força, ao contrário, teria-se destruição (versículo 25). Após isso Jesus aplica o exemplo da divisão ao reino de Satanás demonstrando que Ele não poderia estar realizando aqueles feitos pelo poder de Belzebu: o reino maligno não subsistiria (versículo 26).

Havia no judaísmo antigo (diz-se que ainda há hoje) práticas de exorcismo. No versículo 27 Jesus coloca em cheque a posição dos próprios judeus. Se Cristo expulsava demônios pelo poder dos demônios por qual poder expulsavam o povo judeu (ou os discípulos dos fariseus - entendimento provável) senão pelo mesmo poder? Como se definiria o poder no qual os demônios estavam sendo expulsos?

Cristo deixa claro que se ele poderia expulsar demônios pelo poder dos demônios os judeus, ao fazerem isso, também poderiam estar agindo pelo mesmo poder. Entretanto, não havia como discernir, pelo simples fato do exorcismo (se demônios fossem expulsos pelo poder dos próprios demônios), qual a autoridade utilizada. Logo, os fariseus estavam sujeitos a mesma acusação. Os seus próprios "filhos" lhes seriam os juízes, ou seja, julgariam a acusação e, em um cenário onde isso acontecesse, eles (os filhos) tratariam tal acusação como falsa.


2. BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO

O Senhor prossegue trazendo luz sobre a real autoridade dos exorcismos. O reino de Deus havia chegado (estava sendo instaurado).

O agir de Jesus era por meio do Espírito de Deus e Seu Reino chegava com poder. A casa (reino) do valente (Satanás) era invadida e ele perdia seus bens, seu poderio, domínio e autoridade (versículo 28-30).

Neste ponto Cristo expõe a vileza dos fariseus e aborda a controvertida blasfêmia contra o Espírito, indicando que os fariseus cometeram tão grave pecado, haja vista que eles acusaram um varão que agia pelo Espírito de Deus como alguém que agia por Belzebu. O contexto indica isso. A blasfêmia contra o Espírito:

"Uma das principais explicações sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo é que ela é uma acusação e, mais do que uma acusação, é ter um coração que odeia a Cristo e seus princípios e se volta contra Ele com furor mesmo reconhecendo que Cristo é Deus e que Ele é a Verdade. É se revoltar, se opor conscientemente contra o Santo, com a mente cauterizada. Foi isso que fizeram os fariseus, eles odiaram e acusaram Jesus de expulsar demônios por Belzebu conscientes que estavam diante do Messias, do Filho de Deus, e que Ele fazia todas as coisas pelo poder do Espírito de Deus".
(Trecho da exposição de Hebreus 6)


3. ÁRVORES SÃO RECONHECIDAS PELOS FRUTOS

No versículo 33 algumas bíblias podem trazer títulos parecendo indicar uma mudança de assunto mas Jesus ainda está em seu discurso asseverado contra os fariseus. Isso é tornado claro quando nos atentamos às suas palavras.

Cristo afirma que as árvores são reconhecidas por seus frutos. Os bons frutos mostram que as árvores são boas e maus frutos revelam árvores más. Os fariseus estavam revelando quão más árvores eles eram. "Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração." (versículo 34).

Nos versículos 35-37 o Senhor acentua o conceito daquilo que é externado demonstrando que é o fruto do que é interno. Além desse ponto, que ele complementa no versículo 35, ele fala como essas externalizações seriam os itens alvo da minuciosa avaliação final do Altíssimo, o Juízo Final. O grande Juízo julgará atos, mas como o contexto deixa claro, as ações são somente resultados de quem as pessoas são. Essa é a grande chave. A alusão ao Juízo feita por Jesus deixava claro que a falsa acusação dos judeus e sua hipocrisia os condenariam.


4. SINAL DO PROFETA JONAS

Alguns dentre os religiosos ousaram ainda pedir um sinal da parte de Jesus (versículo 38). Os judeus já haviam visto inúmeros sinais e demonstrações de poder da parte de Cristo.

O próprio início dessa discussão com os fariseus é marcado por um sinal onde Jesus expulsa um demônio e cura um homem surdo e mudo (versículo 22).

Não lhes faltava recomendações para crerem no Filho de Deus e na sua posição messiânica, no entanto, insistiam em testá-lo. O desespero dessa casta corrompida trazia os frutos de uma oposição satânica.

A resposta de Cristo é que nenhum sinal teriam senão àquele de Jonas (versículo 39). Três dias e três noites, um enterrado dentro de um grande peixe, no coração do mar; outro, sepultado no seio da terra (versículo 40). Todavia, possivelmente, o sinal de Jonas abrangia a sua pregação que conclamava arrependimento. Cristo também era profeta, à semelhança de Jonas (embora muito superior), e sua mensagem trazia a mesma máxima: arrependimento.

Os ninivitas se levantarão no Juízo e condenarão a geração de judeus aos quais Jesus falava. A mensagem de Jonas foi ouvida e houve arrependimento, a mensagem de Cristo foi ferozmente rejeitada. A geração dos ninivitas era mui mais honrosa. O ponto é: os ninivitas condenariam a atitude dos judeus.

Há um contraste entre ninivitas e judeus no sentido de que os judeus eram o povo eleito e os ninivitas inimigos de Deus, com quem Ele não tinha um relacionamento mas apenas teve misericórdia. Vergonha maior era ser condenado por atos de justiça, em juízo, por inimigos. Isso os expunha à vergonha.

Cristo também se coloca acima de Jonas. Ele era (é) um profeta superior. Se a pregação de Jonas fez com que os ninivitas condenassem os judeus quão grande profeta ele foi. Mas... "[...] eis aqui está quem é maior do que Jonas".


5. RAINHA DE SABÁ

Cristo prossegue afirmando que a Rainha do Sul (ou de Sabá) veio ouvir o grande rei Salomão. Ela também se levantará no Juízo para julgar os judeus.

O ponto é que ela teve humildade de aprender e se dobrar às palavras do rei. Os judeus foram orgulhosos e assim não o fizeram para com o Messias. Cristo se coloca acima da realeza pois "[...] eis aqui está quem é maior do que Salomão".


6. DETERIORAÇÃO DE ISRAEL

Chegamos, portanto, ao centro da nossa abordagem. Relembremos:

"Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Por isso, diz: Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa." (Mateus 12.43-45)

Cristo parece usar de uma ilustração, algo como uma parábola. Isso faz com que uma correta análise seja aquela que não procura identificar cada e todo elemento descrito a fim de extrair significados, mas entender que os versículos constroem uma ideia geral. Cristo tinha um intenção específica com sua fala. O Senhor afirma que quando um espírito sai do homem ele vaga por lugares inóspitos procurando repouso. Não se tem explicações sobre se tal espírito seria expulso ou sairia por outro motivo; embora o contexto pudesse indicar a expulsão o foco do Senhor não é tratar sobre exorcismos. Jesus aqui não está explicando sobre demonologia mas ilustrando um paralelo contra Israel.

Prosseguindo... O espírito sai do homem, vaga e quando volta encontra sua antiga morada em condições aptas para seu repouso novamente. O homem aludido não teria mudado seu coração e seu interior. Ele não teria tido uma transformação. É incerto dizer que Israel teve um estado ruim (um espírito maligno) e pela pregação dos enviados de Deus foi livre, o ponto não parece ser esse. Cristo fala que o espírito ao retornar viria e traria mais sete demônios. O numeral sete talvez não signifique apenas um acúmulo maior de espíritos, pode significar uma plenitude ou perfeição do domínio maligno, ligado a destruição. Logo, o espírito retornaria e deixaria o homem em estado de destruição.

O paralelo da mensagem aqui parece ser: o estado primário do homem era ruim, ele viu-se livre por um tempo mas seu último estado foi terrível; Israel estava em estado ruim (rejeitando o Messias), ficaria livre (período entre o ministério de Cristo e o julgamento) mas seria condenada (estado final - possessão plena).

É comum criarmos conceitos e doutrinas sobre a atuação dos demônios com base nesse trecho. Cristo tinha um objetivo específico de contrastar Israel com o estado de deterioração de alguém em ruínas, dominado pelo mal. Se utilizarmos isso como regra sempre teremos que dizer que ao expulsar um demônio de um homem, se tal homem não se apegar a Deus, o demônio voltará com mais sete. Se houvesse cinco demônios nesse homem e ele fosse livre, quantos retornariam? Quantos demônios retornariam ao gadareno que possuía cerca de quatro a seis mil demônios?

É possível que Cristo tenha relatado uma regra geral mas por este ser o único trecho que contém essa "doutrina" (Lucas 11.24-26 também, mas é o mesmo relato), em um contexto que não está com o enfoque em demônios e, além disso, ter a presença do número sete (tipicamente empregado nas Escrituras como símbolo de perfeição) parece, mais prudentemente, indicar o caráter ilustrativo e não dogmático das palavras do Senhor.


CONCLUSÃO

Em conclusão, Jesus assevera que tal como esse exemplo, assim aconteceria a geração incrédula dos fariseus. Eles passariam de um estado ruim de incredulidade e influência demoníaca para um estado de entrega total ao maligno. O Juízo chegaria para os fariseus que rejeitaram o Messias e estes seriam condenados. Certamente "[...] o último estado... ...torna-se pior do que o primeiro".

Todo o trecho, do versículo 22 ao 45, está dentro da perícope sobre a oposição e condenação aos fariseus incrédulos. O exemplo da possessão demoníaca citada por Jesus nos versículos 43-45, pelo contexto, embora talvez possa indicar uma situação possível, muito provavelmente não expressa uma regra geral e tomarmos esse trecho como doutrina não parece coerente.


TEXTO: Wrias Santos
EDIÇÃO E REVISÃO: Natannael Oliveira

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