DIVISÃO NA IGREJA


DIVISÃO NA IGREJA DE CORINTO


EXPOSIÇÃO DE 1 CORÍNTIOS 3


APRESENTAÇÃO

Exposição do terceiro capítulo da primeira epístola do apóstolo Paulo endereçada a igreja presente na cidade grega de Corinto.


RESUMO DE 1 CORÍNTIOS

Entende-se que a carta foi escrita, provavelmente, nos três anos em que o apóstolo Paulo esteve na cidade de Éfeso (Atos 20.31; 1 Coríntios 16.5-8), na sua terceira viagem missionária, entre os anos 53-57 d.C., ou, segundo outros, meados do ano 59 d.C.
A carta trata dos problemas da igreja em Corinto dos quais o apóstolo foi notificado por alguns irmãos (1.10-17). Podem ser destacadas a divisão provocada na igreja (1.10 – 4.21), seu apostolado (3.5 – 4.21), os problemas éticos e morais (5.1 – 6.20), o casamento (7.1-40), a idolatria (8.1 – 11.1), os problemas no culto (11.2-34), os membros e suas funções, o amor essencial a cada cristão, as línguas, as profecias e a ordem no culto (12 – 14); também acerca da ressurreição futura (15), e da coleta (16) entre outros.


TEXTO

"Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não é evidente que andais segundo os homens? Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho. Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós. Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo. Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado. Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos. Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus." (1 Coríntios 3).


INTRODUÇÃO

O tema inicial tratado por Paulo nessa carta, que tem seu desfecho nesse capítulo, são as divisões que os coríntios estavam causando na igreja (1.12-13).


1. AS DISSENSÕES DEMONSTRAM FALTA DE ESPIRITUALIDADE

"E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo." (versículo 1).

Desde o início da epístola, o apóstolo Paulo tece uma clara distinção entre pessoas naturais e espirituais. Entre outros termos, ele se refere aos incrédulos como naturais (2.14) e sábios deste mundo (1.18-20), por outro lado ele se refere aos cristãos como espirituais (2.15) e experimentados (2.6). Em sentido amplo uma pessoa natural é aquela que não possui o Espírito de Deus e a mente de Cristo, em contrapartida, uma pessoa espiritual é aquela que possui o Espírito de Deus e a mente de Cristo (2.16). Porém, o modo que Paulo descreve aquele que é espiritual parece indicar maturidade e crescimento cristão o que não é típico de toda pessoa que é regenerada pelo Senhor. Um novo convertido, por exemplo, não demonstrará maturidade cristã embora ele, de fato, seja um cristão.

Pautado nesse contexto Paulo inicia o capítulo afirmando que não pôde falar aos coríntios como a espirituais, mas como a carnais. O que seria, porém, os coríntios serem carnais?

A sentença posterior “como a meninos em Cristo” indica que Paulo reconhecia que os coríntios eram cristãos. Nesse caso, a expressão  "carnais" pode ser entendida como pessoas que ainda estão familiarizadas com o mundo e suas práticas e que ainda estão como iniciantes na fé, que é a leitura simples de “meninos em Cristo”. Entretanto, os coríntios já não deviam ser e se portar com tal imaturidade espiritual, eles não eram novos convertidos, não eram iniciantes na fé, mas, embora eles fossem imaturos é possível que os coríntios tinham em mente que eram espirituais, haja vista que possuíam dons espirituais e os exerciam bastante a ponto de Paulo precisar estabelecer ordem (capítulo 14). ­A utilização de dons espirituais não está diretamente ligada a maturidade espiritual daquele que os utiliza.

"Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis, porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais?" (Versículos 2-4).

Paulo diz que com leite os criou, um alimento leve e tipicamente dado a bebês. O apóstolo utilizou desta ilustração para dizer que com instruções, exortações e ensinos leves (leite) ele tinha ministrado a eles. Ele não havia podido ser mais profundo e/ou duro em suas ministrações, dando-os alimento sólido (carne). No entanto, para tristeza de Paulo, a realidade da igreja em Corinto na ocasião em que ele escrevia a carta era semelhante ao início da respectiva igreja. Os cristãos ainda estavam imaturos e não suportando alimento sólido.
Evidência da carnalidade presente entre os coríntios era a criação de facções dentro da própria igreja. Houve um início de cisão na comunhão da igreja. Alguns se intitulavam ser de Paulo, outros de Apolo, outros de Cefas (Pedro), outros de Cristo. Os grupos podem ter surgido por preferências na maneira de pregar, preferência com a personalidade e muitos outros fatores, entretanto, alguém se posicionar de um lado poderia significar que os outros lados (pregadores) são inferiores ao escolhido. Certamente esse contexto gerou um espírito competitivo maligno na igreja. Aquele que era de Paulo, por exemplo, acharia que Paulo era superior as outras “opções” e consequentemente poderia achar que ele, por estar no grupo de Paulo, também era superior aos outros cristãos.

Contudo, aqueles que se denominavam de Cristo podem ter sido os piores entre os facciosos. Cristo é o mais elevado entre todos. Quem os poderia questionar? Será que eles também se consideravam os mais elevados? Isso era um grande problema.

"Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?" (Versículo 5).

O apóstolo Paulo refere a si mesmo e a Apolo como ministros que Deus utilizou para que as pessoas cressem. Em outras versões a palavra utilizada é "servos".

As palavras “pelos quais crestes” deixa claro a instrumentalidade dos ministros e não sua superioridade. Paulo demonstrou como os ministros e ele não eram ícones a serem seguidos mas que eram servos a servir a própria igreja.

O trecho “senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?” aponta que os ministros são instrumentos que Deus utiliza para anunciar o evangelho a fim de que o povo se arrependa e creia mas também indica que todos aqueles que creem na pregação são dados por Deus. Logo, a quantidade de convertidos através do ministério de Paulo ser maior ou menor a de Apolo não está ligada diretamente a habilidade ou mérito de Paulo. A passagem parece indicar que o Senhor concede, pela Sua vontade, uma quantidade de crentes a cada ministro. Desse modo, um pregador ou pastor anunciar o evangelho e muitas pessoas creem não o faz mais digno daquele que tem um ministério menor, pois foi Deus quem concedeu a quantidade devida a ambos, pela Sua vontade e segundo o Seu propósito. Isso, porém, não indica que os ministros não devam se esforçar e seguir os padrões bíblicos. É dever de todo ministro agir com zelo e piedade.

"Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento." (Versículos 6-7).

Continuando se referindo ao trabalho dos ministros e usando como exemplo a si mesmo (Paulo) e a Apolo, o apóstolo reconhece que cada função é importante mas que é o Senhor Deus quem realiza a obra. Paulo utiliza uma metáfora agrícola e nela ilustra o plantar e o regar de grãos, todavia, sem o crescimento todas as atividades serão inúteis. Deus é quem dá o crescimento e, por isso, tudo depende Dele.

"Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus." (Versículos 8-9).

Os ministros, independente do período de contribuição na igreja, seja no início seja no desenvolvimento (plantar, regar), receberão o galardão pelo seu trabalho. Como e o quê será esse galardão não é claro biblicamente mas é certo que será uma recompensa maravilhosa dada pelo Senhor. O intento dos corações também hão de ser avaliados. Os ministros que se esmeram por reconhecimento, lucro e glória também serão julgados segundo os seus feitos e suas motivações.
No versículo 9 Paulo expõe que tanto ministros como os demais irmãos são parte da igreja mas que eles tem funções diferentes. É necessário reconhecer que existem funções diferentes. Nem todos são ministros, nem todos necessitam ser líderes da congregação. Reconhecer que há valor em cada papel na igreja evita que se deseja posições por egoísmo e exaltação própria e abre caminho para um desenvolvimento segundo a vontade de Deus. 


2. A RESPONSABILIDADE DE QUEM ENSINA

"Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo." (Versículos 10-15).

Paulo como ministro lançou o fundamento na igreja de Corinto, o fundamento é Cristo e não há nem tampouco pode haver outro. Ele é a pedra angular (1 Pedro 2.4-10). O “outro” que edifica sobre o fundamento que Paulo lançou pode estar se referindo a Apolo.

Paulo prossegue tratando dos ministros e da qualidade daquilo que eles edificam sobre o fundamento. Ouro, prata e pedras preciosas podem ser aperfeiçoados pelo fogo, por outro lado madeira palha e feno são completamente consumidos por ele. O Dia, encontrado no versículo 13, se refere ao dia do juízo (Apocalipse 20.11-15). As obras e “edificações” dos ministros serão julgadas e se forem reconhecidas como firmes e sãs eles receberão recompensa e se não forem reconhecidas como tais serão consumidas. É possível que as “edificações” de madeira, feno e palha estejam relacionadas as pregações e ensinamentos envolvidas em sabedoria humana, ou seja, no caso específico de Corinto, confiando na persuasão e retórica grega, o que Paulo já havia desaprovado (2.1-5). Contudo, não é tão clara a forma prática das edificações em madeira, feno e palha.

Certo é que Paulo não tratava de condenação ou não condenação dos ministros nesses versos, isso exclui os ministros hereges que só causam dano aos irmãos e, na verdade, pertencem a Satanás. Paulo tratava da aprovação ou não aprovação para galardão das obras dos ministros. Isso fica claro no versículo 15 onde Paulo afirma que mesmo que todas as obras se queimarem o indivíduo será salvo; pelo contexto, entretanto, se entende que ele será salvo mas não receberá galardão, haja vista que o que recebe galardão o recebe pela permanência da sua obra (versículo 14).

Alguns teólogos entendem que a expressão “salvo, todavia como pelo fogo” (versículo 15) se refere a ideia de alguém que tem sua casa queimada, perde todos os seus bens mas se salva, ainda que pelo fogo. Essa ilustração parece se encaixar muito bem com o contexto.

É importante lembrar que o contexto e as próprias palavras de Paulo nesses versos deixam claro que aqui se trata do julgamento das obras de edificação sobre o fundamento da Igreja. Os que realizam isso são os ministros, presbíteros, pregadores e todos aqueles que “constroem” sobre o fundamento perante a Igreja. Portanto, esses versos se referem aos ministros e não a toda a igreja.

"Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo." (Versículos 16-17).

Aqui Paulo chama toda a igreja de templo de Deus. Ele diz “sois o templo” e não "sois os templos". O contexto de todo o capítulo é a cisão que estava existindo na igreja de Corinto. Paulo repreendeu essa prática, explicou as funções dos ministros, discorreu sobre a atuação de Deus para crescimento na obra e aqui ele afirma sobre aquele que destrói o templo de Deus. O contexto corrobora que destruir o templo de Deus (igreja) seria causar cisões e facções na igreja pois é exatamente o núcleo do que Paulo está repreendendo. Aquele que destrói o templo de Deus será por Deus destruído. A maneira direta e dura que Paulo usa para destruição não parece indicar expulsão da igreja ou alguma disciplina eclesiástica, de fato indica condenação eterna, haja vista que Deus o destruirá porque ele destruiu o templo de Deus que é santo. Santidade nesse contexto parece criar um paralelo com impiedade e condenação.

Contudo, as cisões condenadas são aquelas causadas por motivos egoístas e carnais, cisões geradas para desvio de falsa doutrina ou contínua iniquidade foram apoiadas por Paulo (cap. 5. 9-13).


3. A SABEDORIA HUMANA SEM VALOR

"Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos." (Versículos 18-20).

Os cristãos não devem se entregar à sabedoria humana e sua teórica autossuficiência. Embora toda a ciência e as disciplinas das mais diversas áreas sejam relevantes elas nunca poderão reconhecer a majestade de Deus e a grandiosidade do Evangelho. Paulo cita Jó 5.13 (versículo 19) e Salmos 94.11 (versículo 20) exemplificando a superficialidade da sabedoria humana, tê-la como suficiente em si mesma leva a negação do Senhor da glória, como outrora fizeram os poderosos desse mundo (2.8).

"Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso; Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus." (Versículos 21-23).

Em conclusão, Paulo inverte os valores entendidos pelos coríntios até o momento. Não são os coríntios que são desse ou daquele ministro, os ministros é quem são deles. Não só os ministros mas o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro. Todas as coisas são guiadas por Deus e tudo serve a Igreja. Mesmo a morte não é excluída, tudo coopera para o propósito eterno do bem dos santos de Deus (Romanos 8.28-30). Desse modo, fica claro que era uma grande tolice se limitar e reverenciar um ou outro ministro, na verdade todos servem a Igreja. A Igreja, porém, pertence a Cristo e em tudo deve ser voltada para Ele e para o Pai, pois Cristo é de Deus. Como disse o Reverendo Doutor Augustus Nicodemos: “No fim tudo retorna onde começou. Ele é o Alfa e o Omega, o Princípio e o Fim”. De modo tal que tanto os dons, como a Igreja, como os ministros, como o mundo, como a vida, tudo louva ao Senhor Deus. A Ele glória para sempre!


CONCLUSÃO

O apóstolo Paulo mostrou o erro do sectarismo interno da igreja de Corinto. Ele evidenciou isso ser fruto de uma imaturidade cristã e discorreu sobre como os ministros são apenas servos a servir ao próprio Deus e a Igreja e como o Senhor é quem rege e acrescenta os salvos. Além disso, ele não ignorou o juízo futuro aos ministros que distorcem a mensagem. Em suma, Paulo encaminhou os coríntios a enxergarem os ministros como cooperadores da grande obra de Deus que glorifica a Ele próprio.


TEXTO: Wrias Santos
EDIÇÃO E REVISÃO: Natannael Oliveira
VERSÃO: Almeida Corrigida Fiel 2007

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FIGUEIRA TINHA ESPINHOS?

SALGAR COM FOGO

DE TAL MANEIRA